Colar
Colecionava amizades
Pendura corrente de sorrisos estáticos
No pescoço
Ostentava tantos e tantos
Sorrisos-dentaduras
Polia-os à noite com gotas de lágrimas
Retidas
Um dia o colar mordeu-lhe a jugular
Jorrou-lhe rios de ausências
- Miriam Alves
.
O meu para sempre
é provisório.
Sou viço falho de infinitos
Fagulha afogada de sonho
Ave aviltada de si.
Grito falhado,
sorte ufanada.
Mas onde sou vencida em tudo
um anjo mudo
me abençoa os nadas.
– Nara Rúbia Ribeiro
Ensaio do tempo
Me sinto à todo tempo partindo com o vento
Para lugares que não existem mas que existem porque criei
Aos poucos tornei-me esta duna cheia de lembranças e esquecimentos
Mas sinto a vida passando e o tempo em mim escorrendo
Enquanto sofro enquanto rio de felicidade
Meu corpo corre contra o tempo e eu corro para eternidade
- Narlan Matos
Replanta teu nome
Com a palavra
Reinventa o gesto
Com a partida
E já sem forças de guardar
Celebra o amor
Que em amor se guarda
- Rubens Jardim
Tem gente que tem o costume de vazar pelos cantos.
No começo vaza calada. Aos poucos. Aos pingos.
Mas se pega gosto principia o derrame.
Escorre quando fala. Escorre quando anda.
Não tem mais braço nem cabelo que sgeure.
Parece que vicia em ficar transbordada.
Mas tem gente que quando transborda é pra dentro.
E corre o risco de ficar represada. E represa...
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A noite
A noite tem seus gatos
seus gatilhos
seus miados
seus estampidos.
A noite tem alavancas
De rolar as pedras
E desvendar o sol
A noite tem solavancos
De esmigalhar miolos.
A noite tem seus violinos
Seus rabecões, seus baixo-tubas
- Escute o que quiser escutar.
A noite tem sempre mulheres
Menos sxy
Do que parecem ser
A noite tem espera e esperança.
A...
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Canções peregrinas
Perder-se
pode ser o melhor caminho.
Achar-se,
o mais cruel desalinho,
pois a arte
de caminhar sozinho
é também ser da vida
um pouco mago,
um pouco afago,
um pouco adivinho
e ter, em si, a harmonia
dos polos e dos opostos
na travessia do dia.
– André Setti
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Nas calçadas pisadas
de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
Onde
forcas
esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
pescoço de torres
oblíquas
só
soluçando eu avanço por vias que se encruz-
ilham
à vista
de cruci-
fixos
polícias
Maiakóvski, tradução Haroldo de Campos
em mim não chove
o céu desaba.