Por sua extraordinárias realizações, o mundo moderno é prodigiosamente grande e belo. O homem, orgulhoso de seu poder sobre a matéria e sobre a vida parece dominá-las cada dia melhor. Ora, na medida em que pela ciência e pela técnica o homem vai se apoderando do universo, vai também perdendo o domínio do seu universo interior. À medida que penetra no mistério dos mundos, tanto dos infinitamente grandes como dos infinitamente pequenos, perde-se nos seus próprios mistérios. Pretende dirigir o universo e não sabe dirigir a si mesmo. Doméstica a matéria, mas, quando libertado de sua tirania deveria viver mais intensamente do espírito, a matéria aperfeiçoada volta-se contra ele. E eis que ele se torna seu escravo, e é o espírito que agora agoniza...
Assim, uma após outra caíram as civilizações. E, sabemos que, se todas as que se sucederam desde o início da história, muito poucas sucumbiram a golpes exteriores, tendo a maior parte delas sido o seu próprio carrasco, minadas interiormente por um lento apodrecimento.
Todos nós nos orgulhamos de nossa civilização ocidental. E foi para salva-la que participamos da maior matança que o mundo jamais conheceu, foi para viver que dezenas de milhões de homens morreram, e que as outras dezenas de milhares sofreram atrozmente; e é para salvaguardá-la que agora as nações se armam e a cada dia armazenam forças prodigiosas, capazes de devastar continentes inteiros.
Sem dúvida, nossa civilização está em perigo, mas não tanto em suas fronteiras geográficas, comi nas próprias fronteiras do coração humano. O verme que corrói está em seu interior, e se fortifica, inexoravelmente, alimentando pelas facilidades do mundo moderno que oferecem ao corpo as delícias e ao espírito o orgulho do poder.
É preciso refazer o homem, para que o universo - por ele - seja refeito na ordem e no amor.
Para que se redação a humanidade e o universo, já não basta mais devolver ao homem sua alma; será preciso refaze-la.
Michel Quoist