Um dia, beijo-te a meio de uma frase...
E é nestas teias de palavras que me solto, que sou mais "eu". E escrevo nos gestos íntimos dos meus sonhos, na alegria que sobra depois de arrastada a dor.
Mudou a hora; Independentemente disso, nada mais mudou. As mesmas caras, as mesmas casas, as luzes dos candeeiros toscos, os riscos do meu carro estacionado cem metros à frente a tua sombra pensada por mim inebriando os sentidos.
Um dia, beijo-te a meio de uma frase...
A voz que ouço, a tua voz que me canta, num açoite de memória. Quem diria que apenas uma voz pela calada da noite, tomando formas e gestos de fada.
Mudou a hora e nada mais...Já passaram quinze minutos desde que comecei e apenas a voz, mais a minha caligrafia paciente de monge copista. Um carreirinho de carros na direção da Foz, o "Sétima Vaga" com esplanada aberta e um cenário de luz e cor. Ris comigo, e eu gosto de "te rir", apesar das amarras que te esventram a casa e escancaram janelas e o espelho da vida. O teu sorriso que não conheço, mas sinto, como a voz da rádio que me inquieta.
Um dia, beijo-te a meio de uma frase...
As nossas bocas que se encontram no trajeto nítido de uma palavra Matriz dos dias, sonoridade absoluta, percursos seguros nas circunferências traçadas das nossas bocas. E invento o mundo em aquarelas de cor e vento com sabor de sal. Gotas de chuva misturadas com o teu suor no rosto em fotos " à la minute". Não tenho ilusões, mas vontade de ti, e tantas vezes tão só, que tenho saudades de mim. Falo redundâncias e escrevo este texto sem selo nem remetente.
Apetece-me como nunca, nas formas e aromas dissolvidos em beijos nos teus músculos cansados de leituras noturnas e sonetos de Chopim.
Um dia, beijo-te a meio de uma frase... E o resto é contigo...!
José Pedro Viegas